eu demoro para embarcar em coisas óbvias demais.
e, nas minhas últimas leituras-hype, foi mais ou menos isso que aconteceu: insisti no livro por conta de todo o buzz, passei 80% do tempo revirando os olhos já que o mesmo argumento era reapresentado incansavelmente sem qualquer ajuste de tom, criatividade ou cara de pau. mas chega o momento que simplesmente vem o estalo da leitura e, nos 20% restante do livro, faz toda a energia dedicada valer a pena.
foi assim com falso espelho, o caminho do artista e, agora, indomável.
vocês já devem ter ouvido falar sobre o livro por aí: best-seller indicado entre 9 de cada 10 mulheres que gostam de ler sobre como precisamos sair de nossas « jaulas », confiar na nossa intuição e experimentar uma existência que nos faça sentido.
tem várias passagens legais sobre ser mulher, a maternidade, um casamento falido e todas aquelas concessões diárias que realizamos em prol de uma adequação.
a frase, no entanto, que foi o gatilho para minha experiência de leitura foi um pouco mais simples, e um tanto quanto óbvia. era mais ou menos assim: isso é um fato, não um problema.
no contexto, a autora descrevia uma conversa com sua filha de 13 anos em que ela comentava que joana e maria gostavam dela, mas fulana não.
« old me »: você já tentou ser mais agradável?
« new me »: ok. just a fact. not a problem.
veja, longe de mim ser a defensora da intransigência e mal educação. a vida é muito curta para a gente gastar energia com gente baixo astral. mas você já pensou no tanto que a gente se esforça para agradar? e não é só agradar, mas se fazer caber. em contextos, em empregos, em relações, em estereótipos. é um grande estica-e-aperta entre o sentimento de nunca ser suficiente ou apenas exagerada demais.
de todas as reflexões levantadas por indomável, a que mais me tocou foi justamente essa: talvez, não encaixar seja só um fato. e não um problema.
percebem a força disso?
para assistir
gosto de seguir a @pjaycob porque ela sempre traz dicas boas de filme.
em janeiro, deixei esses dois posts salvos:
livros que li
Um teto todo seu, da Virginia Woolf
esse livro merece um post à parte, mas já queria deixar indicado aqui porque se você assim como eu ainda não leu, vale muito a pena! clássico, curto, sagaz, potente. me diverti muito durante a leitura, e refleti muito também. para além do argumento principal de Woolf sobre mulheres na ficção e como construimos a nossa liberdade de livre expressão, ela traz ótimas frases sobre diversos temas da vida. aqui, um spoiler, que eu adotei como lema desde então:
{…} um bom jantar é de suma importância para uma boa conversa.
não se pode pensar direito, amar direito, dormir direito quando não se jantou direito.
O Lobo da Estepe, do Hermann Hesse
outro clássico, e a minha segunda experiência com o autor. já tinha lido Demian, que amei, e adorei igualmente esse título (talvez o mais popular do Hesse?!). coloquei Sidarta na lista, porque o autor já se tornou um dos meus favoritos.
{…} o homem não é, absolutamente, um resultado firme e duradouro (este foi, apesar dos pressentimentos contrapostos dos seus sábios, o ideal da antiguidade), mas um ensaio e uma transição; não é mais do que a ponte estreita e perigosa entre a natureza e o espírito.
Partículas Elementares, do Michel Houellebecq
sinceramente? não sei opinar. uma das leituras mais fora da minha zona de conforto e que me exigiu demais, simplesmente porque tudo que eu conseguia sentir era: raiva. esse é um dos primeiros livros do autor frânces radicado na Irlanda. a história acompanha a vida de dois irmãos completamente desajustados na vida, com uma família problématica e personalidades complexas. como tudo do autor, a narrativa é um tanto bizarra e acho que o grande trunfo é realmente provocar esse desconforto no leitor. mas, ao longo da leitura, você percebe que o olhar crítico e afiado do frânces está alí por um motivo: ressignificar e cutucar todas as feridas do establishment. e, no caso de Partículas Elementares, a bola da vez é a revolução sexual.
{…} existem corretivos, pequenos corretivos humanos, balbuciou Bruno. enfim, coisas que permitem esquecer a morte. em Admirável mundo novo, são os ansiolíticos e os tranquilizantes. em A ilha, a meditação, as drogas psicodélicas, alguns vagos elementos de religiosidade hindu. na prática, hoje, as pessoas tentam fazer uma pequena mistura dos dois.
links que salvei
Newsletter sobre "o significado de comunidade" da Haley Nahman (vocês já sabem que eu amo tudo que ela escreve)
Newsletter "The Errand Friend" (chega caiu uma lagriminha lembrando das amizades pré-pandemia)
How Capitalism Drives Cancel Culture (oi BBB! eu amo falar - ler - pensar sobre a cultura do cancelamento, e esse texto foi excelente)
é isso, nos vemos em breve!
💋bia