Desonra
sem desperdícios de palavras, Coetzee nos apresenta um grande livro sobre uma sociedade a beira do precipício.
saudades de comentar uma leitura, né minha filha?
pois bem, cá estamos novamente. e como prometido, compartilhando com vocês as leituras que faço nos intervalos de Brasil: Uma Biografia.
espero que gostem da indicação de hoje!

“desonra” foi mais uma daquelas leituras rapidinhas, porém intensas, que rolaram por aqui.
ao ler a sinopse do livro, imaginei ser uma narrativa sobre questões de gênero e assédio sexual sob a perspectiva do próprio protagonista-assediador, um homem de meia idade, professor universitário, frio e solitário que dedica a sua vida a criticar a massificação cultural e lecionar literatura para alunos pouco interessados.
o ápice da sua rotina são os seus encontros semanais com uma prostituta, até que ele esbarra em uma de suas alunas e começam a ter um caso (por insistência do protagonista, sempre obcecado por suprir os seus desejos).
mas em determinado ponto (e aqui, sem spoilers), a narrativa de J.M Coetzee dá uma guinada e somos apresentados a um retrato profundo dos dilemas de poder, classe, raça e gênero que persistem em uma áfrica pós-apartheid.
o que mais me impressionou no livro é a habilidade do autor em demonstrar essas fraturas de um jeito nada óbvio.
como bem escreveu Pedro Schwarcz em sua crítica da obra, a concisão do narrador e o tom seco que persegue todo o livro nada mais são do que estratégias para retratar uma atmosfera tão sufocante de violências e disputas provocadas pela segregação racial que mal há espaços para relações afetivas com alguma plenitude.
“Estamos vivendo tempos puritanos. A vida privada é assunto público. Eles querem espetáculo: bater no peito, mostrar remorso, lágrimas se possível. Um show de televisão na verdade.”
Links que você também pode gostar:
e esse texto, que vai ao ‘x’ da questão: “O tema do romance, o “knorr” do livro, é o predomínio da indiferença entre as relações existentes. Ninguém compreende ninguém e muito menos há um esforço nesse sentido.”
até a próxima newsletter!
💋 bia