ana beatriz rosa

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Brasil: Uma biografia - Capítulo 5

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Brasil: Uma biografia - Capítulo 5

revoltas, conjurações, motins

ana beatriz rosa
Jul 13, 2020
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Brasil: Uma biografia - Capítulo 5

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oi pessoal, como estamos?

ainda tem alguém nessa leitura comigo?

por aqui, a última semana foi corrida e não tivemos newsletter - mas confesso que foi por um bom motivo.

andei tocando outros projetos pessoais que me exigiram uma maior dedicação, e aproveito para compartilhar com vocês. publiquei na revista Elle a minha primeira reportagem como jornalista freelancer (apesar de ainda estar trabalhando com comunicação, não estou mais em um ambiente de redação, mas obviamente não consegui ficar longe do jornalismo por muito tempo, rs).

o texto trata de um tema que anda ocupando minha cabeça e coração: como a flexibilização da quarentena, e um suposto retorno ao “normal”, ainda que com a presença do vírus, nos afeta emocionalmente.

falei um pouco sobre isso em uma série de vídeos no meu instagram e deixo aqui o link da matéria para a leitura caso alguém se interesse.

bom, vamos ao nosso capítulo do dia!

a caixa de comentários continua aberta caso alguém tenha algum feedback :)

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Revoltas, conjurações, motins e sedições no paraíso dos trópicos

lembram que lá no ínicio do livro, ainda no texto de prefácio, as autoras questionaram o quão “cordial” é, de fato, o nosso país? pois bem. no quinto capítulo da obra, elas nos apresentam uma pesquisa ampla sobre os movimentos anticoloniais que marcaram a nossa resistência frente aos portugueses e deram um “ar” de republicanismo aos seus experimentos.

ao longo das páginas, vamos perceber o quanto a violência era moeda corrente de nossa colônia, e não sõ nas relações escravistas, mas também entre os próprios colonos. a distância de Portugal, o isolamento, a submissão nas decisões, as crises, os desmandos das elites locais são alguns dos elementos que distoam do “mito cultural” de que sempre fomos um país em harmonia.

somos apresentados à Revolta da Cachaça, e como os colonos insubmissos da baía de Guanabara se colocaram em oposição a política fiscal praticada pelo então governador. depois, entendemos o quanto esses surtos de insatisfação contra Portugal eram comuns, a ponto de exigirem uma nova forma de disciplina administrativa em relação à colônia. insurreição, sedição, revolta, levante, rebelião, assuada, motim, tumulto… era amplo o léxico, assim como cresceu as medidas voltadas para o controle da população naquele período.

mas fosse qual fosse o seu formato, as revoltas dos colonos possuiam uma semelhança: se davam contra as medidas locais, mas jamais questionavam a Coroa e sempre expressavam lealdade ao rei.

até que, em 1710, esse jogo ganhou um novo capítulo, e uma revolta em Pernambuco introduziu um novo tópico às sublevações. a Guerra dos Mascates, como ficou historicamente conhecida, prezava pela autonomia administrativa de Recife. durou menos de um ano, contou com milícias rurais e apoio dentre as camadas mais pobres do campo até a elite açucareira.

o fundamental, no entanto, é que esse movimento pautou o propósito de tornar Pernambuco independente e os revoltosos deixaram claro que preferiam um forma de governo republicano a ser governado por reis, e essas ideias ultrapassaram as fronteiras locais.

foi ai que se firmou o termo Conjuração: forma específica de conspiração política em que os participantes estão dispostos a contestar o poder do rei e a autoridade da Coroa. e seus autores também passaram a ser acusados por Lisboa de um novo crime: a Inconfidência, delito cometido pelo súdito infiel ao seu príncipe.


Minas, 1789

em Minas, um grupo de homens letrados e da elite econômica da capitania se uniram para contestar a relação colonial e promover a autonomia política da sua região.

eles tinham laços de amizade, familiares e econômicos e estavam, de alguma forma, enredados com o contrabando de ouro e diamantes da região. em geral, burlavam o fisco e não respeitavam a autoridade do governador.

em paralelo, também mantinham laços com garimpeiros clandestinos e comerciantes ambulantes que facilitavam a saída ilegal das pedras para o mercado europeu. mas no fundo, todos eles acreditavam e defendiam a autossuficiência das Minas, e já sentiam na pele a crise com a baixa produção aurífera.

mas apesar desse caldo de ideias, nenhum deles estava disposto a começar uma rebelião, afinal, todos eles, a príncipio, estavam integrados de algum modo ao mundo português. o que fez, então, eclodir a Inconfidência Mineira?

de acordo com as pesquisas das historiadoras, essa resposta envolve três ordens de fatores distintos. em primeiro lugar, o rigor de uma politica metropolitana sob o ouro que desconsideravam outras formas de exploração do potencial econômico das Minas; em segundo, o desastre político do governador local; e por último, a insistência de Lisboa na “derrama” (cobrança de impostos extravagantes) em um momento em que a produção aurífera estava em declínio.

Tiradentes foi o principal propagador das ideias políticas que sustentavam o projeto da Conjuração Mineira. o grupo defendia, sobretudo, a autonomia legislativa da colônia. os mineiros prestavam atenção no que acontecia na Revolução Americana, e buscavam replicar modelos de uma “República Confederada” por aqui também.

o objetivo dos revoltosos não era vencer a metropóle militarmente, mas exaurir a Coroa, forçando uma possível negociação. para isso, precisavam de apoio, mas os mineiros ficaram sozinhos. nenhuma outra capitania se aliou a Conjuração. e antes mesmo que algo se materializasse, o visconde de Barbacena recebeu as denúncias de que havia uma conspiração em marcha na capitania.

Joaquim Silvério dos Reis, participante ativo da conjura, fez uma espécie de delação premiada e contou tudo dos planos do homens em troca do perdão de suas dívidas. de posse dessas informações, Barbacena mandou prender todos os envolvidos e abriu a “devassa” - a busca por provas, interrogatórios e prisão dos acusados. todo o processo levou quase três anos.

em 1789, Tiradentes foi preso. ele não era o líder da Conjuração, mas era o seu principal propagandista e tinha um baita poder de mobilização e oratória. justamente por isso a sua pena pública foi entendida pela Coroa como um “exemplo” a ser dado, para que o horror do castigo não saísse jamais da memória dos colonos. em 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado em praça pública, teve o seu corpo esquartejado e exposto para os colonos.

sim, a Conjuração mineira fracassou, mas depois dela as revoltas nunca mais foram as mesmas na América portuguesa. e vamos entender como isso se sucedeu nas próximas páginas do livro.


Links que você também pode gostar:

  • essa matéria do Uol Tab sobre como o mito do homem cordial “embaça” a percepção do brasileiro

até a próxima semana!

💋bia

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