sim, eu sei, essa newsletter que vos fala chega atrasada em sua caixa de email. poderia dizer que estou testando um outro dia de envio? poderia. mas não foi isso que rolou, apenas não consegui finalizar o email ontem, então, é isso aí!
mas vamos ao que interessa: o quarto capítulo da nossa leitura!
espero que todos estejam bem por aí. e qualquer dúvida ou comentário, já sabem, é só me escrever por aqui.
Sertão dos “Cataguás”
não é de hoje a sina dos homens por uma solução de enriquecimento rápido. e demorou quase dois séculos, mas Portugal não perdeu as esperanças de encontrar metais preciosos - matéria no centro de sua obssessão.
também pudera, o fluxo de ouro que a Espanha retirava de suas colônias americanas fez brilhar, literalmente, os olhos de todas as cortes europeias e manteve acesa a cobiça dos portugueses.
em meados de 1697, chegou em Salvador a notícia de que havia sido encontrado uma espécie de ouro, ainda que fosco e misturado ao cascalho do rio, nos sertões de Minas Gerais. não demorou para que as expedições fossem montadas em busca dos metais preciosos.
foram os paulistas os primeiros a liderar essas expedições. eles já conheciam os caminhos dos interiores, uma vez que se dedicavam à caça dos índigenas, e viajavam durantes meses - e até anos - desbravando as terras. “bandeiras” foi o nome dado as expedições para o interior do país.
“era um ouro miúdo que surgia na forma de pedrinhas faiscantes, grãos ou pó, de coloração amarelada, cinza-amarelada, preta, esbranquiçada, ou com aspecto opaco e muito sujo. entretanto, qualquer que fosse o tipo ou a cor, era ouro farto: por todo lado havia punhados que durante milhões de anos se soltaram das fendas rochosas daquele maciço, a antiquíssima formação geológica de Minas Gerais.”
e como foi depressa a corrida. o povoamento acelerado da região das Minas resultou na criação das três primeiras vilas, em 1711: o arraial de Nossa Senhora do Carmo, a Vila Rica e a Vila de Nossa Senhora da Conceição do Sabará - hoje, as cidades de Mariana, Ouro Preto e Sabará.
chama atenção, nesse capítulo, as descrições que as autoras agregam do período de extração do ouro. “gente de toda espécie se espremia no afã de se arriscar pelas trilhas de acesso ao ouro e, no meio da multidão, havia de tudo…”; sempre que leio algo do tipo, tento me colocar na posição desses aventureiros que vão para o tudo ou nada em busca de uma melhor condição de existência. e, deslumbrados pelo brilho do ouro por toda a parte, os mineiros se esqueciam de algo tão óbvio quanto necessário: ouro não se come. até meados de 1715, os moradores da Minas enfrentavam a fome e as mortes, ainda que com a mão cheia do pó.
o apogeu do ouro se deu até por volta de 1750. durante esse tempo, e com a abertura do Caminho Novo, aconteceu o trânsido de mercadorias e pessoas que abasteciam a região e um novo medo passou a vigorar entre os arrais: o medo das gangue de saqueadores. aparece, aí, um personagem histórico de nossa colônia, o Tiradentes, responsável por desmobilizar uma das principais quadrilhas da época e que voltará ao papel de protagonista durante a Inconfidência Mineira, mas essas são cenas dos próximos capítulos.
ainda, convém destacar nesse período, a cultura em ebulição no caldo do ouro.
grandes poetas utilizaram-se dos marcos dessa pseudo urbanização das vilas para servirem de inspiração para suas obras, e as ideias que circulavam em seus escritos já serviam de fermento para a Inconfidência. o lance desses autores é que, apesar de se denominarem poetas do arcadismo, souberam conciliar à poesia bucolica do campo e da paisagem natural amena as condições inerentes que as regiões das Minas viviam: eles estavam cada vez mais conscientes do conflito latente entre a empresa colonizadora portuguesa e a vida mineira.
“Aquele que se jacta de fidalgo
Não cessa de contar progenitores
Da raça dos suevos, mais dos godos;
O valente soldado gasta o dia
Em falar das batalhas, e nos mostra
Das feridas, que preza, cheio o corpo;”
trecho de Cartas Chilenas, de Tomás Antonio Gonzaga
Links que você também pode gostar:
um pouco da história de Aleijadinho, considerado um grande artista barroco da época do ouro;
a lírica “Marília de Dirceu”, considerada uma das mais famosas da língua portuguesa, também do poeta Tomás Antonio Gonzaga;
esse vídeo da TV Brasil sobre o Barroco mineiro, com belas imagens
até a próxima semana!
💋bia