A Vida Mentirosa dos Adultos

mentiras, mentiras, os adultos as proíbem, porém dizem tantas...

olá, olá

sumida por aqui, eu sei. mas é que tomei um abuso danado das redes sociais (newsletter inclusa) nos últimos dias. também andei meio maisoumenos de saúde e a indisposição foi o gatilho necessário para ficar mais quietinha.

obviamente, as leituras voaram nesse período.

três livros me acompanharam nos últimos dias e, em paralelo às nossas conversas sobre Brasil: Uma Biografia (amanhã saí o proximo consolidado!), vou usar esse espaço para registrar leituras adjacentes.

como sempre, faço o convite dessa caixa de emails para que a gente possa conversar. :)

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se você não conhece a autora, que privilégio é poder começar a ler Elena Ferrante por esse livro. se você, assim como eu, já é fã de carteirinha, vai concordar: ao contrário do que dizem por aí que Ferrante se repete, sou do time que defende que ela mergulha ainda mais e traz adensamento para os temas que explora: o ponto de vista feminino; a brutalidade da violência que há nas miudezas; o embate entre a miseria e tudo aquilo que é considerado culto; o retrato de mulheres inteligentíssimas e potentes mesmo quando encaram o que há de mais complexo, por vezes asqueroso, na experiência feminina.

em "a vida mentirosa dos adultos" há tudo isso, sob a lente da autora tão característica por trazer os desconfortos que é habitar um mundo marcado por opressões, sem necessariamente pontuá-las a cada linha. é no subtexto, aliás, que Ferramente mais me impacta. é no seu apontamento sobre as coisas fixas e as mutáveis, dessa vez encarnada no dilema de Giovanna, o limbo de uma menina-moça-tornando-se-adulta, que ela provoca o desconforto necessário ao capturar os estados interiores sempre com uma honestidade psicológica invejável - para mim, são poucos os textos tão identificáveis quanto os escritos por ela.

para quem leu a tetralogia, vai ser fácil identificar o ambiente da mesma Nápoles multifacetada e deteriorada. agora, quem nos conta a sua história é Giovanna, e acompanhamos a sua vida nos anos 90 em meio a uma classe media “elitizada” intelectualmente até que ela cumpra a sua “passagem” por uma adolescência marcada de conflitos, questionamentos, agressividades e sinceridades.

filha única de professores progressista que “vingaram”, Giannina ora se divide entre o presente aparentemente cor de rosa do seu apartamento, ora se deixa levar pela curiosidade de suas origens - aqui retratados pela tia Vitória, residente da periferia industrial italiana, e do núcleo de personagens que a acompanham.

aos poucos, somos introduzidos as fraturas do mundo quase que perfeito de Giovanna - daí a menção às mentiras - em que tudo começa com uma frase direta na primeira página do livro: “dois anos antes de sair de casa, meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia”.

gosto do percurso de Giovanna que descobre o mundo à medida que reconhece a si mesma, ainda que de forma tortuosa.

mais uma vez, Ferrante constrói personagens poderosos com coragem e honestidade sob a voz feminina. já se tornou um dos meus preferidos, sem dúvidas.

Eu, por outro lado, escapei para longe e continuo a escapar também agora, dentro dessas linhas que querem me dar uma história, enquanto, na verdade, não sou nada, nada de meu, nada que tenha de fato começado ou se concretizado: só um emaranhado que ninguém, nem mesmo quem neste momento escreve, sabe se contém o fio certo de uma história ou se é apenas uma dor embaralhada, sem redenção.

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Links que você também pode gostar:

• Como é feia essa menina: um texto da ótima Fabiane Secches sobre o novo romance de Ferrante; já indiquei no meu instagram, mas o livro de Secches sobre a presença feminina na obra de Ferrante é uma excelente leitura de apoio.

até a próxima newsletter!

💋bia